sexta-feira, 31 de agosto de 2007

travessia


-"Carece de ter coragem..." - ele me disse.
Visse que vinham minhas lágrimas? Doí de responder:
-"Eu não sei nadar..." - O menino sorriu bonito e afiançou:
-"Eu também não sei." Sereno, sereno.
Eu vi o rio. Via os olhos dele, produziam uma luz.
-"Que é que a gente sente quando tem medo?" - Ele indagou, mas não estava remoqueando, não pude ter raiva.
-"Você nunca teve medo?"- Foi o que me veio de dizer. Ele respondeu:
-"Costumo não..."

J. G. Rosa Grande Sertão Veredas.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

a gêmea má


Bondade e maldade são conceitos já tão batidos quem nem dá vontade de trazer à tona. Em que ponto da vida a gente permitiu que nos fossem colocados rótulos tão básicos? Eu não me recordo disso não!!!! Embora me chegue uma vaga lembrança do dia que assinei o contrato com o diabo... Não imaginei que o futuro depois daquele ato impetuoso (e solitário) fosse ser tão gris. Como eu não vi isso? A mãe fala, os amigos sugerem e você ali passando por cima como uma retroescavadeira!!!! Montando seu projeto, seu reino de uma pessoa só... Por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa! Agora eu fico aqui ouvindo o que não quero e violentando minha natureza que me manda botar o circo abaixo. Boa ou má? Depende. A grande maioria das pessoas que convivem comigo diriam q sou uma pessoa tranquila, um bom humor eterno, sorriso na cara etc. Não é cena não, mas é só uma banda da fruta. Inclusive tem gente que me conhece o suficiente pra sugerir o contrário. Conclusão: pancada vem de pancada, egoísmo vem de egoísmo, assim como amor vem de amor, e esse não é mais o caso.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

não-ficção 2



"Há quem descarte a segunda-feira, mas eu em estado de vôo livre me adaptei facilmente. É notório que não é fácil aceitá–lo como um dia de fenômenos ou ainda propício a pensamentos irracionais. Bom, a segunda te diz sempre: volta ao trabalho, aos amigos vínculados, às tarefas rotineiras ou ainda àqueles com uma visão positivista em que a segunda é o dia em que temos tempo suficiente pra acesar a internet sem que niguém ache que vc é pura vadiação. Eu consigo duplicar a visão positivista do dia, adiciono a ele um traço de pseudo-segunda feira, não permitindo formulários e nem filas, ainda que necessárias. Então acredito que é outro dia - talvez uma segunda-feira - e começo a viajar. "


Uma colagem da visão multicolorida da segunda -feira feita por uma charlatã e editada e por outra. Com T. Saboya tudo fica psicodélico!!!

domingo, 26 de agosto de 2007

não ficção


Sexta-feira: Ah! Sexta... Ela brilha desde as primeiras horas. Mesmo enquanto a gente ainda tá dormindo os sonhos já são mais vivos, mais doces. E quando se desperta sentimos o cheiro amarelo do dia. É daqueles tipos de coisa que até quando é ruim é bom. Ficamos com a impressão de que algo está sempre pronto pra acontecer, com aquela sensação elétrica fazendo a máquina andar.

Sábado: Sábado é a hora do almoço, sábado é um hiato, sábado é quando se espera. É um dia de expectativas. É quando a mente da gente, já encharcada de sexta-feira, descansa para agir novamente. A diversão soa meio que obrigatória. É boa, mas não surpreende. Há obrigações, visitas, solenidades. Tudo isso com ares de festa (daquelas que não se pode recusar). Eu queria recusar um sábado!

Domingo: Um dia honesto. Daqueles em que a verdade aparece. Sempre à tarde, quando o sol já não tem aquela luz branca, vai ficando meio dourado... Há quem fale do ar pesado do domingo. Não sinto! Bom dia pra andar nas ruas meio vazias, pra lembrar de outros tantos domingos, de outras tantas pessoas que passaram junto com os outros domingos. A infância se manifesta: as roupas de domingo, as missas de domingo, as corridas de domingo, tios e primos... O mesmo sol e tanta coisa não é.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

são paulo é aí, mas recife é aqui


O que 2.660 quilômetros podem fazer por uma pessoa?
Podem te deixar sozinha? é. Talvez tragam cansaço? sim. Mas este encontro com alguém que andava meio esquecida foi tão essencial. Desembarcou por aí uma lucidez que andava em falta. Não aquela lucidez do que é necessário, do imediato, da lida... a lucidez do bem-olhar.
Estou feliz e sinto sua falta, não sei se posso roubar um pouco do teu pouco tempo, mas vou exigir ver de perto a a luz que reacendeu e ascendeu.

E só pra não perder a piada de ontem:

"Eu conheci uma garota em Bauru
Quinze anos de vida e cinco de rebu
Na lanchonete principal era a rainha
Com suas minissaias sem bainha
Os pais choravam
Os irmãos ameaçavam
E ela nem aí, maravilhosa
Gostosa em sua vulgaridade
Feliz com sua sinceridade
A garota de Bauru
Não é um sanduíche
A garota de Bauru
Não é um personagem triste..."

Garota de Bauru - Cazuzinha


E fico rindo...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

entrevistando clarice lispector


E o pobre do jornalista ali, fazendo de tudo para extrair respostas não monossolábicas dela que fuma um cigarro atrás do outro o tempo inteiro....

Numa das perguntas ele diz:

- Clarice, por que você é tão triste?

Ela responde com seu sotaque (ainda) nordestino e olhar baixo:

- Sou triste não. Só tô cansada.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

derradeiro


Algumas vezes estamos vendo claramente o desenrolar de uma situação e já antecipando os fatos cantamos a bola. Daí nossa percepção nos engana e a coisa não segue o rumo premeditado. E se você gritou 'bingo!" muito alto, deve ter ficado, no mínimo, desacreditada. Já em outras situações, nada, absolutamente nada, aponta para uma mudança dos ventos e tal qual um furacão no caribe... ruuuuuuuu! Eis que a vida se desenha e surpreende. Às vezes dói, outras vezes não, mas eu definitivamente gosto de ser pega de surpresa. Ver que a programação falhou me faz ter esperanças nas possibilidades da vida.
Este é definitivamente o fim de uma era. Chega o fim do inverno, chega o fim do ano... Mas o fim justifica os meios?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

surto

A sensação de impotência e de vazio já andam tão comuns que até escrever sobre elas me parece sem novidade. Será que a tristeza e frustração são as epidemias deste século?
Pra onde eu olho só vejo, vistas cansadas e corações dilacerados.
Outros tantos jogam glitter nos cabelos e nos olhos, fingem estar tudo bem... é bem certo que quando se finge e todos acreditam na mentira e, principalmente, quando ela é uma boa e conveniente mentira, vira rapidamente uma verdade.
Tudo é poeira e vento quente. Aceita-se a harmonia alheia tão rápido. Parabenizam e espalham as boas novas... Como um avião irradiando agrotóxicos pra eliminar a praga da desilusão.

sábado, 18 de agosto de 2007

gentileza


Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta

música "gentileza" , cantada por marisa monte,
que fala de José Datrino- o Profeta Gentileza-
filósofo, místico e cidadão.

E é só no que dizia gentileza que eu quero acreditar hoje!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

mas por que um blog?

Eu acho que blog é coisa de gente exibida que está à caça de algo ou de alguém e aí decide escrever seu pensamentos diários só pra falar, sem precisar ligar pros amigos às 2 da manhã e despejar insatisfações, descobertas, tristezas, ou até mesmo contar que encontrou "aquela" pessoa, tascou-lhe um beijo e saiu sem dizer xau. Certo! Mas por que diabos eu estou escrevendo um blog se eu nunca tive paciência de escrever diários na adolescência? Nunca uma agenda teve o prazer das minhas anotações além do mês de março... E isso nunca foi um problema, eu tinha verdadeiro pavor de ficar descrevendo o que eu iria fazer no dia seguinte ou na semana que vem. Depois me falavam que escrever era terapêutico e tal, mas eu só achava perigoso. Todas a vezes que me meti a escrever algo além de 5 linhas eu tive o ímpeto de rasgar no dia seguinte. Na era do e-mail, infelizmente, isso não é mais possível. E pra falar a verdade, evito mesmo escrever qualquer coisa que me faça sentir vergonha num futuro próximo ou distante. Mas quero deixar bem claro aqui: não consegui seguir a normativa. Enfim, sou um grande catálogo de enganos, erros escritos (afe maria!) e arquivados. A sensação de ter palavras minhas guardadas em gavetas (ou pastas no computador), coisas que na época eram a mais pura verdade e hoje não mais, me deixa assustada. Quando foi que nos tiraram a chance de poder apagar as coisas? Ecos eternos no nosso juízo aloprado...Então é isso. Esse texto inaugural era pra ser mais leve, mas não saiu bem do jeito que eu queria, mas veio como tinha que ser... Sempre achei que as palavras têm vida própria e se alojam na nossa cabeça pra sair na hora que ELAS querem. Pensando bem, essa seria a desculpa perfeita pra aquelas coisas absolutamente idiotas que a gente teima em falar... Será que já estou à procura de cúmplices pra dividir a culpa do crime? A gente vai se falando por aí...