segunda-feira, 29 de outubro de 2007

"as mulheres são como cidades"



Hoje eu repassei um ensinamento que eu ainda não tinha aprendido nem posto em prática.
Diná veio falar comigo com o coração cheio de desilusões. Ela não estava na minha frente, mas imaginava aqueles olhinhos expressivos e toda sorte de idéias que estavam se passando na cabeça dela...
-“Vingar é lamber frio o que o outro cozinhou quente demais.”
E no meu caso eu não sei se passo a língua na fria navalha ou simplesmente enterro o que sobrou.

20 minutos depois

Veja o que pode acontecer a uma pessoa que resolve escrever sem se isolar: ser inundada por falas de outras pessoas. Enquanto eu estava testando minha capacidade de evitar (e/ou rejeitar) gente, me chegam outros pensamentos.
Não posso dividir o mundo em românticos e cínicos. Não é justo! E mesmo tentando não consigo me desvincular desse joguinho superficial feito pra rotular e catalogar.
Chego à conclusão, então, que minha capacidade de dizer sim está ativada, mas anda enferrujada.

Esses dois blocos de textos parecem desconexos, mas eu lhes asseguro que não são!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

sob fogo cruzado



Tudo é amor*

Um homem pode se afobar
E pegar o caminho errado
Homem que é homem volta atrás
Mas não se arrepende de nada
Sabe que a vida é pra lutar contra um dragão invisível
Que mata os sonhos mais banais
Que acha que é tudo impossível

Um homem que veio do pó
É o que transforma o pó em ouro
Um homem foi criado só
Mas vive em função do outro
Na natureza onde ele é rei
No universo onde não é nada
Na incerteza e no prazer
Na ilusão de ser amado

Tudo é amor
Mesmo se for por carma
Tudo é amor
Pretensão descarada

Um homem nasce pra cagar nas regras desse paraíso
Um homem deve procurar a fruta que foi proibida
No meio dessa multidão
Na escuridão e na agonia
Poder chamar alguém de irmão
E ter um sono bem tranqüilo

Tudo é amor
Mesmo se for por carma
Tudo é amor
Pretensão descarada

Um homem nasce pra brincar
E não pra esculhambar a vida
Um homem nasce pra curar
E cutucar a ferida
Mesmo se for pra transformar num inferno um céu conformista
Mesmo se for pra guerrear
Escolha as armas mais bonitas


cazuza


*mas nem tudo é verdade

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

pra quem acredita


Eu acredito no sol
Eu acredito no trânsito
Eu acredito no toque de recolher
Eu acredito na ida
Eu acredito na gasolina
Eu acredito em teclados
Eu acredito em papéis
Eu acredito em pratos
Eu acredito em lápis
Eu acredito em camas
Eu acredito em ônibus
Eu acredito em bolsas
Eu acredito em copos
Eu acredito em pedras
Eu acredito na caixa registradora
Eu acredito em portas
E por fim...
Eu acredito na grande abóbora!

O resto eu aceito com certa reserva.


"Todo ano a grande abóbora se levanta do canteiro de abóboras que ela julga o mais sincero.
Tem que ser este aqui! Tem que ser!!! Não pode existir um canteiro de abóboras mais sincero que este aqui. Pode olhar em volta que cê não vê um sinal de hipocrisia!"
Linus

terça-feira, 9 de outubro de 2007

errores



Passo na frente da Igreja de São José, o silêncio me incomoda.
Praça Sérgio Loreto e tenho um estalo: tá tudo errado!!!
Rua Imperial: Tá tudo errado, tudo errado, tuuuuudo errado!
Ecos.
Engarrafamento.
Ponte de afogados: Tá tudo errrado, tá tudo errado... ops! o telefone toca.
Amiga repassando notícias bombásticas, o carro está superaquecendo...
A ligação cai.
Largo da paz: Tenho a certeza. Tá mesmo tudo errado e não é só um pedaço não, tá tudo contaminado de erros.
O que fazer com esta preciosa descoberta?

Pausa.

Manhã seguinte recebo da bombástica:

" E abri a boca para que a minha alma fosse embora. E ela foi. Senti quando caiu em minhas mãos o fiozinho de sangue com que estava amarrada ao meu coração".

Pedro Páramo, Juan Rulfo


Pausa.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

ophelia sequelada



Eu ontem eu estava me lembrando de filmes que eu adorei e que não fizeram sucesso.
Me veio à memória um que contava a história de dois adolescentes, uma menina que estudava num colégio interno religioso e se apaixonava por um carinha que estava num reformatório perto do convento/escola. Esse lugar ficava distante da cidade no meio de uma floresta. Numa determinada cena a protagonista está num lago fazendo um auto retrato tentando reproduzir esse quadro aí de cima que mostra Ophelia. Foi tão lindo e o resultado tão legal, que por muitos e muitos anos eu alimentei a vontade de fazer uma foto igual. O que eu não tinha me ligado, do alto de todo o meu conhecimento adolescente, era na história da Ophelia. Personagem da peça Hamlet de Shakespeare (uia que chique!). Ela tem uma affair com o danado do Hamlet (o príncipe em crise e melancólico da Dinamarca), mas seu pai e irmão fazem de tudo pra afastá-los, acham que ele só quer se aproveitar da coitadinha e que nunca vai se casar com uma plebéia e tal. No meio desse redemunho todo, Hamlet mata o pai de Ophelia por engano. Fica “meio” pertubado com as visões e conversas que tem com o pai morto e é mandado pela mãe (que com menos de um mês da morte do marido se casa com o cunhado que virou rei) pra longe. Ophelia fica maluquinha e comete suicídio afogando-se no rio. Pra encurtar a história: todo mundo morre no final. Definitivamente havia algo de podre no reino da Dinamarca. E eu ainda quero fazer essa foto!